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Com a invasão à sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Alagoas nessa segunda-feira, 29, movimentos sociais se insurgiram contra a decisão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de indicar um aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para a superintendência do órgão no Estado. A informação é do portal Valor Econômico.
Segundo os invasores, a ocupação é um protesto diante da “continuidade do bolsonarismo” na direção do instituto em Alagoas.
“Desde o início de 2023, temos pedido ao governo uma mudança de direção do Incra em Alagoas, que era ocupado por um bolsonarista. O ministro [Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário] não foi fiel nem franco com a gente, o que nos surpreendeu. Ele falou uma coisa e acabou cedendo às chantagens do presidente da Câmara”, afirmou ao Valor Margarida Silva, integrante da Coordenação Nacional do MST que está envolvida na invasão do Incra em Maceió.
Silva ressalta que a nomeação de Júnior Rodrigues do Nascimento para superintendência do órgão em Alagoas, formalizada na última semana para substituir Wilson César de Lira Santos, primo do presidente da Câmara, foi “um golpe duro” por parte do governo Lula, que havia prometido para o cargo uma pessoa alinhada com a “reforma agrária”.
“O governo trocou seis por meia dúzia. Não haverá diálogo nosso com bolsonarista”, disse Margarida Silva.
Os movimentos sociais no Estado faziam pressão para a indicação para a superintendência de Alagoas do servidor José Ubiratan, que ocupou interinamente o cargo até a escolha do novo chefe.
Ao Valor, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, afirmou que Ubiratan foi indicado apenas como “substituto”. “Quando mudamos o superintendente, pedimos ao deputado Arthur Lira que indicasse seu sucessor”, disse.
O ministro também afirmou que o novo superintendente se comprometeu com dois aspectos: “Garantimos que as políticas que foram pactuadas com eles não serão interrompidas e que o novo superintendente fará sua gestão em sintonia com eles”, resumiu Teixeira.
A reportagem não conseguiu contato com o novo chefe do Incra no Estado, Júnior Rodrigues do Nascimento.
Em nota, o MST declarou que “a nomeação de Júnior acende mais uma luz amarela na condução da política agrária em Alagoas, que tem sua cadeira rifada aos interesses individuais em virtude das necessidades coletivas das comunidades e organizações camponesas no Estado”.
Wilson César de Lira Santos, primo de Arthur Lira, foi demitido do Incra em meados de abril. Indicado para o órgão em 2017, ainda no governo de Michel Temer, ele ocupou o cargo de superintendente em todo o governo de Jair Bolsonaro (2019-22) e enfrentava resistência dos movimentos sociais desde o início do governo Lula, no ano passado. Sua demissão aumentou ainda mais a tensão entre o presidente da Câmara e o Palácio do Planalto.
A exoneração de Lira Santos ocorreu quatro dias depois de seu primo Arthur Lira criticar publicamente o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, o que criou ruídos no mundo político de que isso teria sido uma retaliação, o que foi peremptoriamente negado pelo governo federal.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, entrou em cena para acalmar o presidente da Câmara e recebeu dele a indicação do substituto. Com o compromisso de escolher alguém ponderado, Arthur Lira tomou a decisão de indicar o novo superintendente Júnior Rodrigues do Nascimento junto com entidades alagoanas de produtores rurais.