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Luiz Felipe d’Avila: ‘O eleitor não acreditou que havia opção ao populismo’

O cientista político Luiz Felipe d’Avila, de 59 anos, que concorreu à Presidência pelo Novo, fala nesta entrevista sobre o desempenho eleitoral do partido e as divergências de seu fundador e ex-presidente, João Amoêdo, com dirigentes e mandatários da legenda. Fala, também, sobre o futuro do Novo e afirma que o partido tem de redesenhar sua governança para deixar claro que não tem dono e atrair as forças liberais que hoje estão dispersas em várias siglas e organizações.

Como o sr. analisa o resultado do Novo nas eleições?

O resultado foi ruim, para nós e todos os partidos que representavam uma posição mais de centro. A eleição mostrou que o eleitor dobrou a aposta na polarização. No Congresso, o PT e o PL saíram muito fortes e os outros partidos, como PSDB, MDB, PSD, PSB, PP encolheram. Na eleição presidencial, não houve terceira via e disputa ficou entre Lula e Bolsonaro. Foi um sinal claro de que o eleitor acreditou que, neste momento, não havia escolha a não ser a opção por um dos polos do populismo.

No caso do Novo, as divergências entre João Amoêdo e os dirigentes e mandatários da legenda não prejudicaram também a divulgação da mensagem partidária?

Não acredito que isso seja verdade. A divisão do partido foi praticamente resolvida quando as candidaturas para esta eleição foram aprovadas. O Amoêdo já não tinha mais nenhum cargo na Executiva, não participava mais do Diretório Nacional. Os próprios amoedistas se afastaram. Então, a dificuldade de propagar a mensagem se deu muito devido ao cenário polarizado. Ninguém queria escutar proposta. Nunca vi uma campanha tão pobre na discussão de propostas. Ficou uma discussão superficial dos reais problemas do Brasil e do que nós temos de fazer para enfrentá-los.

Na semana passada, o Amoêdo teve sua filiação ao Novo suspensa por declarar voto em Lula e criticar publicamente dirigentes e mandatários. Mas, como a imagem dele ainda é muito vinculada ao Novo, suas posições acabam criando ruídos entre filiados e fora do partido. Como superar este problema?

Infelizmente, o posicionamento do Amoêdo, de usar a imprensa para falar mal e criticar o Novo, criou uma oposição muito forte a ele, de desilusão, dentro do partido. A gente tem de dar o devido crédito ao João Amoêdo. Foi ele quem criou o Novo e o colocou em pé. Agora, a forma como ele vem tratando o partido só colabora para destruir a obra que ele construiu, o que é uma coisa maluca. Ele dizia que não era o dono do Novo, mas, quando o partido passou a ter uma atitude com a qual ele não concordava, começou a fazer críticas e a criar essa cizânia. Na minha visão, nós temos de olhar para o futuro e esquecer o Amoêdo. Acredito que ele vai se sentir cada vez mais desconfortável nesse barco e terá de definir o que quer.

O sr. é uma espécie de forasteiro no Novo. Não participou do processo de construção do partido e fez sua trajetória no PSDB, embora tenha “vestido a camisa” do Novo na campanha. Qual é o seu plano no partido? Vai continuar no Novo?

Vou continuar no Novo. Quero ajudar o Novo a reconstruir o partido, a aprimorar a sua governança. Vou trabalhar para tentar recrutar gente boa para as eleições municipais de 2024. Quero ser uma espécie de embaixador do Novo. Mas não pretendo ter cargo na Executiva do partido. Acho que isso hoje está muito bem nas mãos do Eduardo Ribeiro (presidente da legenda), que está fazendo um ótimo trabalho. Eu estava no PSDB, mas sempre fui um liberal. Era o cara da direita no PSDB. Pelos meus livros e pela minha trajetória, você vê que sempre tive mais afinidade com a linha ideológica do Novo do que com a do PSDB. Aí, quando o PSDB desmoronou, já em 2018, resolvi me afastar porque percebi que não havia clima para se construir o partido que eu achava que poderia avançar com a agenda liberal e reformista.

Com o resultado do Novo nas eleições, alguns analistas resgataram a velha máxima de que “os liberais brasileiros caberiam numa Kombi”. Há espaço para um partido liberal como o Novo no Brasil?

A maior alegria que eu tive na campanha foi andar por esse Brasil e encontrar uma nova geração, de 20 a 35 anos, totalmente liberal. É interessante o DNA dessa geração. É uma geração para a qual o Estado nunca funcionou. A educação pública é péssima, a saúde pública é horrível, o Estado cria dificuldade para quem quer montar seu negócio. É uma geração que rechaça o Estado, que quer empreender, ser dona do seu destino. Então, vejo uma mudança geracional muito voltada às bandeiras do Novo e totalmente desiludida com a política tradicional.

O sr. vê então o revés do Novo nestas eleições como uma questão conjuntural e tem uma visão otimista em relação ao futuro do partido?

Com certeza. Estou muito otimista. Acredito que temos de aprender com os erros desta campanha, reconstruir o partido e ter uma nova governança, para o Novo se preparar para um Brasil que está indo ao encontro do que nós pregamos.

Hoje, no Brasil, os liberais estão dispersos em vários partidos e organizações. Como o sr. vê a possibilidade de o Novo concentrar esse grupo de liberais?

Esta é a razão do meu otimismo. Por isso, o redesenho da governança é tão importante. O que essas forças liberais vão querer ver é se esse partido tem mesmo uma governança moderna, se não tem dono, como já mostrou agora, com essa questão do Amoêdo. Para que elas se sintam confortáveis em aderir ao Novo, o partido precisa ter um bom conselho de administração, com nomes que representem essa corrente liberal, além de um novo presidente e uma nova Executiva legitimados pelos diretórios estaduais e pelos filiados. Isso vai abrir um novo capítulo na história do partido.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: José Fucs
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